quinta-feira, 10 de março de 2011

Líricas

Às vezes insistimos amargamente

E em vão,

Mantendo uma mórbida esperança,

Uma embalsamada ilusão...

Assim, como eu,

Que teimo em não perceber

Que tudo já aconteceu...

(Livro: Espera de J. G. de Araújo Jorge)

Não. Não te entenderei. E na verdade

Já nada mais importa

A vida para mim é um intérmino

Solo...

Como poderei te entender, se me trazes

Agora morto, nos braços,

O mesmo amor que há pouco, em beijos,

Embalavas, e aconchegavas ao colo?

(Livro: Espera de J. G. de Araújo Jorge)

Escrevo, amor, porque ainda acredito que

Voltes,

Que tudo continue.

Do contrário, apenas enlouqueceria.

(Livro: Espera de J. G. de Araújo Jorge)

Antes assim...

Foi um fim

Como devia ter sido.

Nem a piedade sobreviveu,

Para amparar o amor, de repente

Destruído.

(Livro: Espera de J. G. de Araújo Jorge)

E quem diria, amor, que ao amanhecer

Não nos reconheceríamos,

Nós que até como cegos

Antes nos encontrávamos...

(Livro: Espera de J. G. de Araújo Jorge)

Se chegasses agora, poderias ainda reconhecer

As antigas pegadas que ficaram

Tatuando loucuras e sonhos...

Se demorares mais, nem sei se nos meus olhos

Haverá luz

Para distinguires o caminho...

(Livro: Espera de J. G. de Araújo Jorge)

Não te desejo a felicidade

Resta-me a inútil convicção

De que já a colhemos.

(Livro: Espera de J. G. de Araújo Jorge)

Desmemoriados, enterramos este amor

Em que lugar?

E ainda bem. Era amor que nasceu só

Para se viver,

Não, para se lembrar.

(Livro: Espera de J. G. de Araújo Jorge)



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