Às vezes insistimos amargamente
E em vão,
Mantendo uma mórbida esperança,
Uma embalsamada ilusão...
Assim, como eu,
Que teimo em não perceber
Que tudo já aconteceu...
(Livro: Espera de J. G. de Araújo Jorge)
Não. Não te entenderei. E na verdade
Já nada mais importa
A vida para mim é um intérmino
Solo...
Como poderei te entender, se me trazes
Agora morto, nos braços,
O mesmo amor que há pouco, em beijos,
Embalavas, e aconchegavas ao colo?
(Livro: Espera de J. G. de Araújo Jorge)
Escrevo, amor, porque ainda acredito que
Voltes,
Que tudo continue.
Do contrário, apenas enlouqueceria.
(Livro: Espera de J. G. de Araújo Jorge)
Antes assim...
Foi um fim
Como devia ter sido.
Nem a piedade sobreviveu,
Para amparar o amor, de repente
Destruído.
(Livro: Espera de J. G. de Araújo Jorge)
E quem diria, amor, que ao amanhecer
Não nos reconheceríamos,
Nós que até como cegos
Antes nos encontrávamos...
(Livro: Espera de J. G. de Araújo Jorge)
Se chegasses agora, poderias ainda reconhecer
As antigas pegadas que ficaram
Tatuando loucuras e sonhos...
Se demorares mais, nem sei se nos meus olhos
Haverá luz
Para distinguires o caminho...
(Livro: Espera de J. G. de Araújo Jorge)
Não te desejo a felicidade
Resta-me a inútil convicção
De que já a colhemos.
(Livro: Espera de J. G. de Araújo Jorge)
Desmemoriados, enterramos este amor
Em que lugar?
E ainda bem. Era amor que nasceu só
Para se viver,
Não, para se lembrar.
(Livro: Espera de J. G. de Araújo Jorge)
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