quinta-feira, 21 de abril de 2011

A Mulher Amada

Se fosses luz serias a mais bela de quantas há

No mundo: a luz do dia!

Bendito seja o teu sorriso que desata a

Inspiração de minha fantasia!

Se fosses flor serias o perfume concentrado de

Divino que perturba o sentir de quem nasce para amar!

Se desejo o teu corpo é porque tenho dentro

De mim a sede e a vibração de te beijar!

Se fosses água – música da terra,

Serias pura e sempre calma!

Mas de tudo que possas ser na vida, só quero,

Meu amor, que sejas alma!

(Antonio Botto)


A Lenda de Anam

Como as flores, a orquídea tem uma lenda. Eis a encantadora história, como é contada nas terras da Indochina. O Anam havia sido conquistado pelos chineses havia três-quartos de século. Essa formosa terra apesar da tirania do usurpador ainda conservava límpidas e perenes as tradições do santo rei Hung IV. Budha não deixaria de proteger esse povo trabalhador e submisso porque as amendoeiras continuavam a florir.

Na cidade existia uma jovem famosa chamada Hoan-Lan que divertia-se em fazer penar suas paixões aos seus numerosos adoradores. Por um sorriso o jovem Kien-Fu tinha cinzelado o ouro mais fino e trabalhado com infinita paciência as mais lindas peças de jade. A ingrata após ter sido adornada com todos os presentes do nobre apaixonado riu dele e o desprezou. Kien-Fu, desesperado, acabou com a própria vida atirando-se no Rio Vermelho.

O pintor Nguyen-Ba conseguiu obter cores desconhecidas para pintar o retrato de sua amada. Esta, porém após ter-se exibido para satisfação de sua vaidade à magnífica pintura, desprezou o artista que por sua vez desapareceu para sempre no mistério das selvas.

Mai-Da apaixonado também quis patentear seu amor à jovem volúvel inventando um perfume delicioso somente digno dos anjos. A ingrata perfumou-se e mandou pôr na rua o seu adorador que nada mais aspirando na vida envenenou-se.

Cung-Le levou sua perseverança a incrustar nácar numa pulseira de ébano que foi recebida pela ingrata. O pobre enlouqueceu. Mas o poderoso Deus das cinco flechas, deus que a tudo via e tudo ordenava, julgou que era o momento de castigar tanta maldade fazendo a jovem volúvel apaixonar-se pelo formoso Mun-Cay.

Desde então, Hoan-Lan sonhava ao seu leito de nácar e sedas bordadas com seu adorado, cujo nome esvoaçava sobre seus lábios de carmim como uma borboleta sobre a rosa. Ao despertar descia à piscina, banhava-se e adornava-se com suas jóias mais preciosas para ver passar seu querido Mun-Cay que apenas dignava-se em levantar os olhos para ela. Nunca tinha considerado a formosa jovem, nem se interessado pela fama de beleza que tinha ardido à sua volta.

Os dias iam passando e Mun-Cay não saía de sua indiferença cruel. Um dia Hoan-Lan decidiu sair ao seu encontro e declarar-lhe sua paixão. “Não me interessas, rapariga.” – disse ele – “És como todas as outras, para mim não vales nada. Se fosses como aquela que eu amo...esta sim é uma deusa. Tu, mísera Hoan-Lan, com toda tua vaidade não serves nem para atar-lhe as fitas das sandálias.” E com um sorriso desdenhoso afastou-se.

Em meio de seu desespero, Hoan-Lan lembrou-se do deus todo poderoso que vivia na montanha de Tan-Vien. Talvez ele pudesse lhe valer. Apesar da noite escura e chuvosa a jovem dirigiu-se ao monte sagrado, onde residia sua última esperança. A entrada do templo subterrâneo era guardada por um terrível dragão.

Hoan-Lan suplicou-lhe a concessão de entrada e ao cabo de muitos pedidos conseguiu penetrar num extenso corredor por entre serpentes horríveis que lhe babujavam os pés nus. Quando chegou junto ao trono de Ônix, o poderoso gênio, prostou-se e implorou – “Cura-me, que sofro horrorosamente. Amo Mun-Cay que me despreza.”

“É justo o castigo,” – respondeu o deus – “porque isso mesmo tens feito aos teus apaixonados.” “Ó todo poderoso, tens dó de mim. Concede-me o amor de meu querido Mun-Cay. Sabes bem que não posso viver sem ele.” “Vai-te daqui .” - rugiu o gênio - “Nada conseguirás. O castigo que pesa sobre ti, foi imposto pelo Kama que tudo sabe. É justo que sofras. Saia do meu templo.”

À saída, Hoan-Lan encontrou-se com uma bruxa de pés de cabra. “Formosa jovem,” – disse-lhe a bruxa – “sei que és muito desgraçada. Queres vingar-se de Mun-Cay? Vende--me a tua alma e juro-te que embora Mun-Cay não te ame, não amará a outra mulher."

Hoan-Lan voltou a sua casa que lhe parecia um cárcere. Saía para os bosques a distrair sua pena, mas sempre em vão. Um dia, vendo ao longe seu adorado Mun-Cay, correu ao seu encontro e quando se preparava para abraçá-lo, o jovem foi transformado numa árvore de ébano.

Neste momento apareceu a bruxa que soltando uma gargalhada lhe disse: “Desta maneira teu amado não pode ser nunca de outra mulher.”

“Bruxa infame!” – exclamou chorando, a pobre Hoan-Lan – “O que fizeste a meu adorado? Devolva-me ou mata-me.” “Contratos são contratos.” – replicou a bruxa rindo satanicamente – “Cumpri o que prometi. Mun-Cay, embora nunca te ame, não amará a outra mulher. Prometi e cumpri. A tua alma me pertence."

Hoan-Lan abraçada ao pé da árvore, chamava desesperadamente o seu tronco imóvel. “Perdoa-me Mun-Cay. Tens para mim uma só palavra de amor, de indulgência e compaixão. Não vês como me arrasto aos seus pés, como te abraço e como sofro?”

Mas a árvore nada respondia. A jovem ali ficou por muito tempo. Uma manhã passou ali um gênio que se compadeceu da sua dor. Acercando-se dela, pôs-lhe um dedo na testa e disse: “Mulher procedeste muito mal, foste volúvel até a crueldade e ingrata até a malvadez. Procedeste muito mal. Mas tua dor purificou a tua alma, estás perdoada e vais deixar de sofrer. Antes que a bruxa venha buscar a tua alma, vou transformar-te numa flor. Ficarás sendo, no entanto, uma flor esquisita e requintada que dê impressão do que foi a tua vida maldosa. Quem ver as tuas pétalas facilmente adivinhará o que foi o teu espírito. Caprichoso, volúvel, cruel e a tua preocupação constante pela elegância. Concedo-te um bem, não te separarás do bem que adoras e viverás da sua seiva, parasita do teu amado.”

Assim falou o poderoso gênio. E, quando falava, a túnica rósea de Hoan-Lan ia empalidecendo e tornando-se de uma delicada cor lilás. Os olhos da jovem brilharam como pontos de ouro e as suas carnes tomaram a tonalidade do nácar. Os seus formosos braços enrolaram-se na árvore na derradeira súplica.

E assim apareceu a primeira orquídea do mundo segundo a lenda do Anam.


terça-feira, 12 de abril de 2011

Ser Mulher

Mulher

Semente...

SER-mente...

SER que faz gente,

SER que faz a gente.

Mulher

SER guerreiro, guerrilheiro, lutador...

multimídia, multitarefa, multifaceta, multi-acaso...

multi-coração...

Mulher

SER que dá conta,

que vai além da conta,

que multiplica,

divide, soma e subtrai, sem perder a conta,

sem se dar conta, de que esse século foi seu parto,

na direção de seu espaço,

de seu lugar de direito e de fato,

de seu mundo que lhe foi usurpado e que agora é por ela ocupado.

MULHER...

Esse SER florado,

esse SER adorado,

esse SER adornado,

que nos põem em um tornado,

nos deixa saciado e transtornado,

que nos faz explodir e sentir extasiado.

SER admirado...

MULHER...

Nesse final de milênio, faça a transição.

Tire de seu coração a semente que vai mudar toda a gente

levando o mundo a ser mais gente...

Um mundo mais feminino,

mais rosado e sensibilizado,

mais equilibrado e perfumado...

PARABENS MULHER !!!

Não pelo oito de marco,

nem pelo beijo e pelo abraço,

nem pelo cheiro e pelo almaço.

Mas por ser o que és...

Húmus da humanidade,

Raiz da sensibilidade,

Tronco da multiplicidade,

Folhas da serenidade,

Flores da fertilidade,

Frutos da eternidade...

Essência da natureza humana.


Feliz Páscoa

Todos nós buscamos, adquirir bens para motivar nossa felicidade.

Até que em um determinado momento da vida, começamos por perceber que nós, é que fazemos as mudanças internas.

Cristo nosso mestre há muito já nós convidava para uma mudança continua em busca de Paz, Harmonia, União e Fraternidade.

Está ai a chave para vivermos melhor.

E nesta Páscoa, que bom seria se nos propuséssemos a todos os dias mudarmos gradativamente.

Procurando sentir o valor verdadeiro da vida, que se apresenta a todos nós, é tudo muito simples.

Desejo que todos nós iniciemos nossa busca por este ideal, deixando que a Páscoa seja mais que o símbolo de um dia e se transforme numa forma de vida para toda humanidade.

Tenha uma Feliz Páscoa.

(Autor Desconhecido)


Carlos Drummond de Andrade

Nascido e criado na cidade mineira de Itabira, Carlos Drummond de Andrade levaria por toda a sua vida, como um de seus mais recorrentes temas, a saudade da infância. Precisou deixar para trás sua cidade natal ao partir para estudar em Friburgo e Belo Horizonte.

Formou-se em Farmácia, atendendo a insistência da família em graduar-se. Trabalha em Belo Horizonte como redator em jornais locais até mudar-se para o Rio de Janeiro, em 1934, para atuar como chefe de gabinete de Gustavo Capanema, então nomeado novo Ministro da Educação e Saúde Pública.

Em 1930, seu livro "Alguma Poesia" foi o marco da segunda fase do Modernismo brasileiro. O autor demonstrava grande amadurecimento e reafirmava sua distância dos tradicionalistas com o uso da linguagem coloquial, que já começava a ser aceita pelos leitores.

Drummond também falava sobre temas como o desajustamento do indivíduo, ou as preocupações sócio-políticas da época, como em “A Rosa do Povo” (1945). Apesar de serem temas fortes, ele conseguia encontrar leveza para manter sua escrita com humor e uma sóbria ironia.

Produzindo até o fim da vida, Carlos Drummond de Andrade deixou uma vasta obra. Quando faleceu, em agosto de 1987, já havia destacado seu nome na literatura mundial. Com seus mais de 80 anos, considerava-se um "sobrevivente", como destaca no poema "Declaração de juízo".