sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A Transfusão

 
Numa aldeia vietnamita, um orfanato dirigido por um grupo de missionários foi atingido por um bombardeio.
Os missionários e duas crianças tiveram morte imediata e as restantes ficaram gravemente feridas.
Entre elas, uma menina de oito anos, considerada em pior estado.
Era necessário chamar ajuda por um rádio e, ao fim de algum tempo, um médico e uma enfermeira da Marinha dos EUA chegaram ao local.
Teriam que agir rapidamente, senão a menina morreria, devido aos traumatismos e à perda de sangue.
Era urgente fazer uma transfusão, mas como reuniram as crianças e, entre gesticulações, arranhadas no idioma, tentavam explicar o que estava acontecendo e que precisariam de um voluntário para doar o sangue.
Depois de um silêncio sepulcral, viu-se um braço magrinho levantar-se timidamente.
Era um menino chamado Heng.
Ele foi preparado às pressas, ao lado da menina agonizante, e espetaram-lhe uma agulha na veia.
Ele se mantinha quietinho e com o olhar fixo no teto.
Passado algum momento, ele deixou escapar um soluço e tapou o rosto com a mão que estava livre.
O médico lhe perguntou se estava doendo, e ele negou. Mas não demorou muito a soluçar de novo, contendo as lágrimas. O médico ficou preocupado e voltou a lhe perguntar, e novamente ele negou.
Os soluços ocasionais deram lugar a um choro silencioso, mas ininterrupto.
Era evidente que alguma coisa estava errada.
Foi então que apareceu uma enfermeira vietnamita vinda de outra aldeia. O médico pediu então que ela procurasse saber o que estava acontecendo com Heng.
Com a voz meiga e doce, a enfermeira foi conversando com ele e explicando algumas coisas. E o rostinho do menino foi se aliviando. Minutos depois ele estava novamente tranqüilo.
A enfermeira então explicou aos americanos:
- Ele pensou que ia morrer, não tinha entendido o que vocês disseram e estava achando que ia dar todo o seu sangue para a menina não morrer.
O médico aproximou-se dele e, com a ajuda da enfermeira, perguntou:
- Mas, se era assim, porque então que você se ofereceu a doar seu sangue
E o menino respondeu, simplesmente:
- ELA É MINHA AMIGA...

O Amor Antigo

 
O amor antigo vive de si mesmo
Não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
Mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas,
Feitas de sofrimento e de beleza. 
Por aquelas mergulha no infinito,
E por estas suplanta a natureza. 
Se em toda parte o tempo desmorona
Aquilo que foi grande e deslumbrante,
O antigo amor, porém, nunca fenece.
E a cada dia surge mais amante. 
Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
E resplandece no seu canto obscuro,
Tanto mais velho quanto mais amor.”

(Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Oração de Natal


Senhor, começo a ouvir os primeiros toques das músicas de Natal
O meu coração começa a bater mais forte
Não sei se é porque está acabando o ano
Ou se é porque tenho muito que agradecer
Ou se tenho que dizer para Ti,
para meus amigos, muito obrigado...

São tantas as idéias, são tantas as coisas que aconteceram
São tantos os momentos que ocorreram neste ano
Que já perdi em lágrimas, sorrisos, recordações...
Mas um dia ficaram os apertos de mão e os abraços recebidos
São tantas e tantas coisas, muito obrigado...

Sei que devo agradecer
Mas meu coração fica inquieto pela manhã
Mais um ano e com ele mil sonhos e mil idéias para acontecerem
Mas mesmo assim preciso parar, organizar idéias, pensamentos,
pedidos e todas as coisas que vão acontecer

Mas, diante deste turbilhão de coisas e acontecimentos, eu venho Te pedir
Tu mesmo me ensinaste a pedir, mas não sei pedir
Estou como uma criança, diante de uma loja de brinquedos
Senhor, ensina-me a pedir!
Ensina-me a ter um coração de Salomão, que só pediu sabedoria

Um coração de criança, que só pede amor
Um coração de doente, que só pede saúde
Um coração de monge, que só pede tranqüilidade
Um coração de cego, que só pede enxergar
Um coração de Maria Santíssima, que só pediu fazer Sua vontade

Um coração de mendigo, que só pede um pouco de comida
Um coração de guerreiro, que só pede coragem
Um coração de mãe, que só pede união na família
Um coração de pai, que só pede que não falte nada
Um coração de virgem, que só pede realização na vida

Um coração de médico, que só pede para que possa ajudar os outros
Um coração de sábio, que só pede a paz Senhor, que este pobre e humilde coração,
possa neste Natal apenas bater uníssono com o coração de Cristo
E que possa ter em minha mente um só pensamento, o Teu pensamento
Para que saiba dizer Feliz Natal!!!

(Frei Navarro)

Aos Amigos

O que achas Senhor,
Se neste natal eu preparar uma árvore
Bem bonita dentro do meu coração
E em lugar de presentes e das balas,
Pendurar os nomes de todos os meus amigos?

Os amigos que estão por aqui
E os que estão longe, os antigos e os novos.
Aqueles que vejo todos os dias
E aqueles que vejo muito raramente.

Aqueles dos quais eu sempre me lembro
E aqueles que, às vezes ficam esquecidos.
Aqueles das horas difíceis e dos momentos alegres.
Aqueles que sem querer causei sofrimento
E aqueles que sem querer me fizeram sofrer.

Aqueles que conheço a fundo
E aqueles que conheço só as aparências.
Uma árvore com raízes muito profundas
Para que seus nomes
Não saiam nunca do meu coração.

Uma árvore com galhos bem compridos
Para que os nomes novos vindo de todo o mundo
Se unam às já existentes.
Com uma sombra bem agradável para que nossa
Amizade seja um momento de repouso durante a luta da vida.


Natal

 
Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados, um sentimento conserva,
Os sentimentos do passado.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei.
(Fernando Pessoa)


sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Coração





Coração essa dor tão grande,

Que me invade, quando penso,

No vácuo carregado.



Ele que foi feito para o amor,

Hoje não carrega, nem mais dor.

Ele batia, com alegria,

E hoje bate, sem harmonia.



Eu sonhava, ele sorria.

Hoje eu penso em como seria.

Sem dor, sem dança,

As coisas tantas, que a vida canta,

Não escuto mais.



De solidão vive um coração,

Que nem dor carrega mais,

Falo palavras e orações,

Ajudo a todos os corações,

Mas quando vejo, estou aqui,

Com algumas lágrimas a me cobrir.



Sem dor, nem dança,

Nem o vento alcança,

A melodia, tão bela e fina,

Que eu trazia dentro do peito,

Agora nem o som dos tambores,

Eu sinto bater dentro do peito.



Do que valia, tais melodias,

Se nada delas pude fazer?

E agora, o tempo,

Já fez questão de resolver.



Esse impasse, que se rebate,

Pelo meu peito ao amanhecer,

E a falta de amor e de melodia,

Nada mais poderão me fazer.



Anestesia na alma levei,

Para esquecer amores que não tenho

De uma vez.


(Mariana Amaral de Queiroz)